A idéia nasce: certo dia, no mês de agosto/07, retornando da aula de natação, meu amigo Alessandro comentou comigo sobre o interesse de fazer uma viagem à Argentina, aproveitando período de férias. A partir daí, começamos a pensar na possibilidade, e a arquitetar, junto com nossas esposas, a melhor forma de pôr a viagem em prática. Desde o início, resolvemos que viajaríamos de carro, para aproveitarmos melhor a liberdade que esta forma de locomoção nos oferece.
O primeiro passo, logicamente, seria coincidir o período de férias dos quatro! No entanto, como o período para escolha das férias ainda estava um tanto longe, resolvemos levar em frente o planejamento da viagem, ainda sem saber se conseguiríamos o período adequado.
Inicialmente, decidimos pelo período, escolhendo uma época entre meados de março e meados de maio (portanto, com dois meses para “margem de manobra” dos 30 dias regulares de férias). Desta forma, fugiríamos da “concorrência” mais pesada da disputa do período de feries escolares, e ainda estaríamos livres do período mais rigoroso do inverno na Cordilheira dos Andes, já que desde o início pretendíamos visitar o local.
Bem, a partir de então, passamos a fase de planejamento. Alguns hão de dizer que planejar viagem é chato e que de certa forma “amarra” a viagem a trajetos, datas etc... Bem, podemos afirmar que isso não ocorre se for permitida certa flexibilidade. Outra: não há nada mais chato do que você fazer uma viagem longa, chegar a um local bacana, e ter de perder horas procurando hotel, andando em um trânsito de uma cidade desconhecida, sem ter referências sobre os locais mais adequados.
Sendo assim, primeiramente procuramos adaptar um roteiro à disponibilidade de tempo que teríamos para a viagem. Como já havíamos decidido por incluir o Chile (e consequentemente a travessia dos Andes) na viagem, calculamos exatamente 3 semanas para rodarmos por terras estrangeiras, sobrando alguns dias para o trajeto terrestre dentro do Brasil (é, Brasília é longe) e para darmos um abraço nos familiares espalhados pelo Brasil.
Ainda não sabíamos exatamente os locais a visitar, chegamos a pensar em um passeio envolvendo Buenos Aires, Santiago e a região de Bariloche e lagos andinos (trajeto típico dos viajantes Brasileiros que se aventuram por terras de los hermanos. Compramos dois guias de viagem (Argentina e Chile) e passamos a estudar os locais mais detalhadamente. Foi assim que nasceu o roteiro definitivo da viagem: Brasília – Foz do Iguaçu – Buenos Aires – região de Mendoza – Santiago – e a novidade: deserto do Atacama, retornando ao Brasil após descer a Cuesta del Lipan, e atravessar o Chaco Argentino. Com o trajeto definido, estudamos os locais que visitaríamos, para definir o tempo de estadia em cada local, já devidamente calculados as necessidades de deslocamento de automóvel entre um ponto e outro. Feito isso, observamos que teríamos um prazo muito justo para conhecermos todos os locais, mas vimos que, seguindo um cronograma adequado, era perfeitamente possível. Lembrem-se que incluímos locais aos quais necessitaríamos três pacotes diferentes de passeios oferecidos por operadoras de turismo.
Temos ótimas lembranças deste período de planejamento, que envolveu vários jantares, sempre regados a um bom vinho (prenúncio do que teríamos pela frente nas regiões vinícolas dos países a serem visitados, nos quais teríamos a “pesada tarefa” de apreciar muitos vinhos da região).
Apenas como adendo, lembramos de comentários e sugestões para que abandonássemos a idéia de viajarmos de carro, optando por transporte aéreo, justificando provável cansaço e perda de tempo considerável entre os deslocamentos. Pois bem, sempre considerei que A VIAGEM FAZ PARTE DO PASSEIO, e comprovando essa tese, paisagens deslumbrantes se ofereceram à nossa visão unicamente por estarmos viajando de automóvel. Quanto ao cansaço, ele não se apresenta para quem adora dirigir (nosso caso). Outra questão levantada com certa freqüência, foi – vocês vão mesmo viajar com “carro baixo” (explico, não viajamos em jipe ou carro similar), e eu afirmo que, ao final de 11.853km, não devemos ter percorrido mais do que 80 a 100 km em estrada de terra, ou seja, não há qualquer necessidade de automóvel Off-road para fazer esta viagem.
Após conseguirmos conciliar o período de férias, passamos para os preparativos práticos da viagem. Neste ponto, muito nos ajudou as dicas obtidas em sites e Blogs de outros viajantes, além das dicas preciosas dos amigos Alexandre e Fernanda Formiga e Sílvia Yumi, que havia feito recentemente uma viagem semelhante.
Nos quesitos burocráticos, foram tomadas as devidas providências:
- fizemos renovação das nossas carteiras de identidade (não é prudente viajar com uma carteira mais antiga, tipo mais de 5 anos – já imaginou planejar, se preparar, e ao chegar em um posto de fronteira e ser bloqueado?);
- tiramos a Permissão Internacional para dirigir (obrigatório no Chile, mas não na Argentina);
- fizemos o Seguro Carta-Verde, para o automóvel, que é uma espécie de DPVAT, seguro contra terceiros obrigatório no Mercosul.
- registramos na Anvisa nossas carteiras de vacinação.
- para quem planeja usar cartão de crédito, tem que verificar junto a sua administradora se ele tem validade internacional, e se esse não for o caso, solicitar a sua habilitação.
Vale lembra também que o veículo deve, obrigatoriamente, estar em nome de um dos ocupantes, sem estar alienado ou qualquer coisa semelhante. Se esse for o caso, deve ser obtida uma certidão, registrada em cartório, autorizando o condutor a atravessar com o veículo na fronteira.
Para o Carro, há ainda certas exigências, que devem ser cumpridas para evitar problemas com os policiais (vcs verão mais adiante do que estou falando). Existe obrigatoriedade de portar dois triângulos de sinalização, um cambão (barra para reboque de veículos) – levamos um cabo de aço, mas a legislação de trânsito argentina exige o cambão, portanto, providenciem o mesmo, além de um Kit de primeiros –socorros (comprem na fronteira, eles podem criar caso com Kit trazido do Brasil) e de um lençol branco (isso mesmo!), ou seja, uma “mortalha”, que serviria para cobrir possíveis vítimas fatais em um acidente de trânsito (Deus nos livre).
Outra providencia a ser tomada, se assim for desejo dos viajantes, é a contratação de um seguro saúde.
Também é de utilidade providenciar mapas rodoviários, mas aí sugiro que os comprem no país de destino, onde sempre serão mais baratos e confiáveis do que aqueles disponíveis no Brasil. Quando se está na estrada, eles podem nos tirar de apertos consideráveis. Já para aqueles mais ligados em tecnologia, porque não levarem o GPS.
Após isso tudo, ainda há de se decidir sobre a forma como fazer os pagamentos das despesas lá de fora. Existem inúmeras formas: travelers checks, cartões travel-money, cartões de crédito e dinheiro local, em espécie (ou “en efectivo”, como diriam los hermanos). O dólar e o real também são aceitos em diversos estabelecimentos, mas aí ficamos a mercê da cotação do referido estabelecimento, e nesse caso a despesa pode ficar mais cara do que ela seria em moeda local.
De nossa parte, fizemos um estudo detalhado, auxiliado pelo guia de viagem, e pesquisando tarifas na internet, e com isso conseguimos fazer um orçamento bastante aproximado (como se revelou ao final da viagem) dos nossos gastos, que podem ser divididos em quatro grandes grupos obrigatórios: hospedagem; gastos com combustível/pedágio; alimentação; passeios/lazer. Poderíamos incluir aí um quinto grupo, que seriam as compras, mas estas não são obrigatórias, e variam muito dentro das preferências dos viajantes.
Optamos, então, por levar em dinheiro local e no cartão de viagem (visa travel money, no nosso caso, todas as despesas relativas aos 4 grandes grupos, e mais algumas compras que pretendíamos fazer no Paraguai (hehehe, sim, fez parte do trajeto um meio dia em Ciudad del Leste). Após a viagem, minha sugestão à vocês é de que se faça um orçamento rigoroso quanto aos quatro grandes grupos acima e de que se leve em moeda local o montante necessário. Após conferir as faturas e verificar a cotação da cobrança (dólar Ptax), o cartão de crédito se mostrou uma alternativa bastante atraente (em alguns casos suplantando o dinheiro vivo). Ele pode e deve ser utilizado para as despesas adicionais, como compras, ou para cobrir gastos subestimados (mas não confie em postos de combustível, pois a maioria dos postos em que paramos, principalmente na Argentina, os cartões não eram aceitos – tenha dinheiro “en efectivo”). O único porém do cartão é que ele fica sujeito à possibilidade a variações bruscas na cotação da moeda, mas como vivemos um momento estável da nossa economia, com o dólar ladeira a baixo, não é provável que aconteça. O Visa travel-money se mostrou menos atraente do que o próprio cartão de crédito, e explico porquê. Quando vc o compra, ele é preenchido com dólares. No nosso caso, pagamos R$ 1,85 o dólar, mas no momento em que o utilizamos, após a conversão da moeda local para o dólar nos era descontada a taxa comercial da moeda norte-americana, o que, traduzido para o nosso Real, ficava em torno de R$ 1,64. Percentualmente é uma diferença significativa, que encarece muito a utilização deste cartão. Menos mal que utilizamos boa parte do Visa no Paraguai, onde a “perda financeira” da diferença de cotação foi compensada, e bem, pelo valor reduzido das mercadorias naquele local. Ao fim das contas, ainda saímos no lucro.
Após esta longa exposição, que julgo útil e necessária a todos os viajantes, vamos partir para o relato da viagem propriamente dita, não sem antes nos colocarmos a disposição dos amigos viajantes que queiram informações adicionais ou dicas sobre a viagem (msn: blog4amigos@hotmail.com).